Crítica – Mulher-Maravilha 1984

2020 foi um ano diferente, distópico e destoante. Nele, aprendemos lições valiosas, entramos para a história e sentimos algo que há tempos parecíamos ter esquecido: a humanidade. Aqui poderia eu filosofar com a pergunta “o que nos torna humanos?”. E continuar a filosofar procurando respostas em novas perguntas, como “enfrentar uma pandemia?”, “padecer do outro?”, “sentirmos uma dor?”. Fato é que não chegaria a tal resposta, principalmente numa introdução de texto sobre filme de super-herói. Mas o que vemos em Mulher-Maravilha 1984 é justamente toda filosofia escancarada sobre o que nos torna humanos.


Dirigido por Patty Jenkins e co-escrito pela mesma junto a Geoff Johns e Dave Callaham, Mulher-Maravilha 1984 (WW84) nos retoma a história da personagem Diana Prince após os acontecimentos do primeiro filme, e como o título já anuncia, mais precisamente no ano de 1984. Já em seus primeiros minutos de tela, conhecemos a pequena Diana em uma competição contra outras Amazonas adultas em Themyscira. Somos apresentados então aos dilemas da narrativa que veremos logo a frente, o confronto da personagem com a “trapaça” ao destino e suas consequências. Em seguida, somos apresentados a narrativa que será o fio condutor da história, onde uma importante pedra, aparentemente de pouco valor, carrega grande poder e que acaba caindo em mãos erradas.




Quando digo a respeito da “trapaça” ao destino e suas consequências, muito liga-se a pedra e suas simbologias e aqui cabe ressaltar que PODE HAVER SPOILERS NESSE TEXTO. Para que se tenha um desejo realizado, algo precisa ser sacrificado. E é aí que um sonho pode se tornar (e se torna) uma maldição. A trapaça feita àquilo que nos é oferecido, torna-se então algo perigoso e de grandes impactos, não a nós, mas a um conjunto, a um coletivo. E a partir desse ponto que WW84 cresce enquanto filme. Em seus três atos, a obra apresenta a partir disso algo que poucos filmes de super-herói ousam utilizar que é a linha tênue entre o que nos torna herói e o que nos torna vilão. A exemplo disso, em outro filme da DC, Coringa (2019, Todd Philips) somos apresentados justamente a isso, a um homem que está na linha tênue entre ser um herói e entre ser um vilão, tornando-se no final das contas, a meu ver, o herói de sua história. Em WW84 temos dois personagens fracassados, tanto emocional, quanto social e quanto financeiramente. São eles Maxwell Lord, interpretado por Pedro Pascal, e Barbara Minerva, interpretada por Kristen Wiig. Ambos acabam tendo uma boa motivação que de certa forma cativa o espectador e faz entender os motivos de suas atitudes futuras no filme, simplesmente pelo ato de se colocar no lugar deles. São pessoas em busca de algo, são humanos. Os personagens são ainda mais humanizados por seus erros, sendo inegável lembrar da célebre frase “errar é humano”. A propósito, acredito ser acertado o desfecho da trinca de personagens principais dessa obra, justamente por esse último ponto citado. Cabe ainda citar o sopro, muito presente em todo filme quando a pedra é utilizada. Tornando-se assim um sopro de humanidade, um sopro de ambições e desejos puramente humanos, inconsequentes e, por vezes, gananciosos.


Gal Gadot, como sempre esbanja simpatia e traz um cativo único a personagem. Poucos acertam tanto como ela como Diana/Maravilha. Formando também uma excelente dobradinha com Chris Pine, que reprisa seu papel como Steve Trevor. É cômico e apaixonante ver ambos em cena até porque um torna-se a motivação do outro na obra. Ainda sobre o elenco, os já citados Pedro Pascal e Kristen Wiig dão tanta vida e nuances a seus personagens que é impossível não cativarem também os espectadores, das mais diversas formas, seja por empatia ou por raiva mesmo. São vilões muito bem desenvolvidos nas duas horas e meia de produção. Por fim, no início temos a pequena grande Lilly Aspell como a pequena grande Diana. O trabalho com os atores nesse filme impressiona dado tamanho acréscimo a obra que eles dão.

Patty Jenkins tem assim em mãos uma continuação sólida e a parte do universo que a Mulher-Maravilha faz parte. Como o primeiro, ela cativa, apresenta boas cenas de ação e melhor que o antecessor, traz uma história ainda mais sólida nos seus três atos. Com um alvo narrativo muito bem acertado, como que atirado por uma das Amazonas. E mesmo não explorando os anos 80 de uma forma como Tarantino explorou os 60, deixando-o como um pano de fundo belo e nostálgico para a trama, não perde a mão e apresenta ao público um excelente filme para se fechar o 2020 diferente, distópico e destoante.


Título: Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984)
Direção: Patty Jenkins
Roteiro: Patty Jenkins, Geoff Johns e Dave Callaham
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Ano: 2020

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